O apresentador Tiago Leifert revela os métodos de preparação para começar bem qualquer novo projeto de carreira |
Não é fácil chegar ao topo antes dos 40. Mas aos 33 anos, Tiago Leifert,
apresentador dos programas de televisão The Voice e Globo Esporte, da
TV Globo, construiu uma carreira tão sólida, que qualquer profissional
de 60 anos invejaria.
O segredo do jornalista é começar bem, acreditar nas próprias ideias e
dedicar-se até o final. "Pode acontecer de tudo dar errado, mas pelo
menos eu comecei", afirma. Conheça a trajetória profissional de Tiago na
entrevista.
Por ter nascido no esporte, você teve dificuldades de se adaptar ao modelo de entretenimento do The Voice?
Tiago Leifert - O The Voice é bem diferente de apresentar. Percebi que eu amo o esporte, mas o que eu amo de verdade é a TV.
Aprendi a ter um tom mais moderado do que estava acostumado, porque o
tom do esporte é muito gritado. E tem outra coisa também: eu não uso
teleprompter.
Eu prefiro decorar ou improvisar, por isso preciso estudar e me
concentrar muito. O momento decisivo para saber se eu servia pra isso ou
não seria mesmo o primeiro "ao vivo".
Eu trato os programas ao vivo como se fossem a minha primeira final de
campeonato: eu fico no hotel, não saio, almoço, janto, tomo café, leio o
roteiro e penso o que pode dar errado em cada bloco. Tenho as saídas
para não ser pego de surpresa pelo erro.
Como você se prepara para começar um novo projeto?
Tiago Leifert - Sou muito crítico com meu próprio
trabalho, sempre me preparo para fazer o melhor possível. Preciso ficar
um dia inteiro em casa, escrever a respeito, olhar e simular o que pode
acontecer. É um processo muito solitário, depois é que eu abro para
conversar com alguém.
Não dou margem a erros e procuro não me distrair. Eu não sabia que ia
surgir a oportunidade para apresentar e editar o Globo Esporte e
apresentar o The Voice. Mas eu treinei a minha vida inteira para que,
quando isso acontecesse, eu estivesse pronto para fazer.
Meu maior defeito é que sou péssimo em políticas de escritório. Falo
tudo o que penso e não tento forçar um relacionamento. Sou introvertido.
De resto, estou sempre tenso – isso custa caro. Tenho uma hérnia
cervical e já operei duas vezes o esôfago, o que me deixa fora do
trabalho por um tempo.
O que te traz mais satisfação no trabalho?
Tiago Leifert - Gosto quando o público mais improvável
elogia o meu trabalho, ou quando alguém cita uma parte específica de
uma matéria que eu fiz. Isso me deixa muito contente.
Gosto de ser útil para as pessoas. Vejo que muita gente busca a
carreira de TV porque é carente e não sabe disso, precisa de aplausos.
Mas eu nunca fui carente, meu negócio é outro. Quero que as pessoas
falem o quanto meu programa foi legal e interessante, não me importo
tanto com elogios específicos relacionados ao meu carisma como
apresentador. Isso não é o principal.
Mas você não considera o seu jeito espontâneo de apresentar inovador na TV brasileira?
Tiago Leifert - Deixando a modéstia de lado, muitas
vezes vejo que as pessoas me copiam. Eu só uso duas roupas: camisa polo
colorida ou pulôver com polo por baixo. E de repente começo a ver
pessoas se vestirem igual.
Eu não uso isso por decisão de figurinistas, mas sim porque preciso
tomar tanta decisão por dia, que deixo de lado decisões como essas, que
são mais mundanas. Mas aí vejo que as pessoas estão usando isso como se
fosse parte do plano. As pessoas também copiam minhas frases.
Como foi sua iniciação na profissão?
Tiago Leifert - Tive uma primeira experiência como
repórter aos 16 anos, em programa de futebol de Várzea, em SP. Estudei
na Universidade de Miami e, na época de estagiar, me inscrevi para as
três grandes emissoras americanas: ABC, CBS e NBC. Passei na NBC,
estagiei por três meses e no final do estágio eles me ofereceram uma
vaga que não pude aceitar porque meu visto tinha vencido.
Voltei para o Brasil e tentei entrar na TV Globo ou no SporTV, mas
ninguém me chamou. Assumi um programa na TV Vanguarda, afiliada, e me
tornei editor chefe e apresentador de um programa esportivo aos 22 anos.
Era meu sonho. O programa explodiu e um tempo depois virei chefe do
núcleo.
Trabalhava das 6 à 1h da manhã, todo dia. Foi a minha primeira
experiência com a fama. Quando finalmente o SporTV me chamou, sofri
muito, porque é duro ser o mais novo. Meu estilo era diferente, porque
esporte para mim é entretenimento: tem que ter drama, emoção e humor.
Pensei em sair no meio de 2007, achei que não ia conseguir me adaptar
nunca e seria perseguido por ser esquisito. Passei uma madrugada toda
pensando e, no dia seguinte, resolvi arriscar. Eu ia fazer do meu jeito,
era tudo ou nada. Nos primeiros dias não deu certo, mas no terceiro dia
ficou ótimo. Comecei a ser elogiado e emplacar matérias.
Editar e apresentar o Globo Esporte em São Paulo foi
uma grande empreitada na sua carreira. Em algum momento você se sentiu
inseguro por assumir essas responsabilidades tão novo?
Tiago Leifert - Sempre tive certeza de que daria
certo, nunca questionei. Antes novo modelo do Globo Esporte ser lançado,
mandei um e-mail tranquilizando a todos da minha equipe: podíamos errar
muito, que daria certo no final. As pessoas diziam: "isso é um absurdo,
você está matando o jornalismo esportivo".
Riam da minha cara pelos corredores. Eu respirava fundo e pensava que
meu objetivo era maior, então não ia entrar em briguinhas. Eu acordava
muito cedo e trabalhava. Assistia a todos os jogos e pensava em pautas o
dia inteiro. Meu projeto virou um sucesso.
Você se imagina trabalhando em outro lugar?
Tiago Leifert - Eu fico na Globo pelo menos 12h por
dia. Não sei o que seria de mim se saísse, ia ser como perder o amor da
minha vida, porque eu sempre quis trabalhar na Globo, é o que eu gosto.
Meu pai trabalha lá desde 88, então eu cresci lá dentro.
Por mais que pareça que eu esteja seguro por estar no Globo Esporte e
no The Voice, é claro que eu tenho medo de perder meu emprego. Porque me
arrisco muito, sou muito intuitivo. Minha alternativa seria começar
tudo do zero nos Estados Unidos, trabalhando com qualquer coisa, junto
com a minha esposa.
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