terça-feira, 6 de agosto de 2013

As lições do homem que trabalha há 75 anos na mesma empresa

Aos 90 anos, Walter Orthmann é o brasileiro que trabalha há mais tempo na mesma empresa

Durante sua carreira, o gerente de vendas catarinense Walter Orthmann recebeu seu salário mensal em oito moedas diferentes, foi chefiado por 12 diretores-executivos e mudou de cargo quatro vezes. Mas desde 1938 não alterou o nome da empresa empregadora na carteira de trabalho.

Aos 90 anos, Orthmann é o brasileiro que trabalha há mais tempo na mesma companhia, segundo o RankBrasil, uma versão brasileira do livros dos recordes.

No último dia 17 de janeiro, o catarinense superou o próprio recorde e completou 75 anos de Renauxview, uma empresa têxtil de Brusque (SC). E não pretende deixar o cargo e a empresa tão cedo – seu contrato de trabalho expira só em 2021 e ainda pode ser renovado.

Orthmann começou sua longeva relação com a companhia aos 15 anos quando assumiu o cargo de funcionário da expedição. Levava uma hora para chegar ao trabalho. O caminho, sem asfalto, era feito a pé. Durante nove meses, das 6h às 18h, a rotina foi “enrolar, empacotar e colocar etiquetas nos tecidos”. O salário inicial era de 100 mil réis. Todo dinheiro, até os 21 anos de idade, foi para as mãos do pai dele.

Depois disso, virou estafeta (ou o que chamamos hoje de office boy) e, meses depois, foi para o setor de faturamento. “Tudo era manual, nem máquina de calcular existia”, conta.

Em 1955, começou a trabalhar no departamento comercial da companhia, onde descobriu sua verdadeira paixão: vender. Para conquistar bons pedidos, Orthmann encarava até dois dias de estrada (muitas vezes, de terra) para chegar a outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro.

O trajeto era feito de ônibus, a princípio. Depois, de avião. “O piloto, às vezes, tinha que voltar para o aeroporto e dizia que tinha esquecido o plano de voo para não ter que falar que o avião tinha dado um problema”, lembra.

De Porto Alegre a Manaus, a vida profissional era visitar lojas e confecções. Anotava tudo na, até hoje, onipresente agenda de papel: “Você nunca pode deixar de responder uma coisa que prometeu. Por isso, tem que anotar tudo para jamais esquecer”, diz revelando ser este o seu segredo para conquistar clientes leais. 


Contagem regressiva para a segunda-feira
A aposentadoria veio em 1978, mas não hesitou diante da possibilidade de continuar no emprego. E pede para a reportagem nem falar sobre a ideia de “parar de trabalhar”. Só de pensar nisso já fica “nervoso”, brinca.

“Se você parar, espera o quê? A morte? Porque você vai morrer”, diz. “Se fico em casa, durmo até nove, dez horas. Dói aqui, dói lá. Já acho demais sábado e domingo. Só tiro férias porque me obrigam”.

Roberto Sander, diretor de marketing da Renauxview confirma isso. “No último aniversário do seu Walter, a esposa dele pediu para não darmos mais férias, porque ele fica doente”, conta.

Por outro lado, oportunidades para sair do emprego não faltaram. “Eu pensei: estou tão bem aqui, gosto do que faço, vivi muito bem este tempo todo, por que vou me mudar?”, conta. 


“Um vício que eu não quero”

No expediente, que dura das 8h às 17h, nada de computador. Os pedidos são todos escritos à mão ou na máquina de datilografia em folhas de papel carbono. Depois, segundo Sander, são digitalizados por uma das secretárias da empresa.

Isso não significa que ele não entenda de tecnologia. Quando quer saber alguma coisa nova, faz consultas na internet, mas “sem espalhar nada”. Segundo ele, computador é um vício. “Quem pega, vicia mesmo. Não quero aqui na fábrica. Não faz bem para a vista, cansa e tudo o que eu preciso já está na minha agenda”, afirma.

O trajeto para o trabalho é percorrido de carro – que ele mesmo dirige. Todos os dias, seu Walter almoça em casa. “Quando o chamo para uma reunião às 11h30, ele já lembra que pode perder a sobremesa em casa”, brinca o sócio-diretor da empresa.

No ano passado, passou o equivalente a três meses e meio viajando para visitar clientes em cidades do Sudeste e Nordeste. Segundo os diretores da companhia, muitos só aceitam ser atendidos por ele. 

“A motivação dele é o trabalho. A adrenalina é o pedido tirado”, afirma Armando Hess De Souza, sócio-diretor da Renauxview, que conheceu o seu Walter por volta dos 5 anos de idade em uma das visitas à empresa com a mãe, dona Adelina, fundadora da camisaria Dudalina. 


Depois do expediente
Os 75 anos de trabalho duro não impedira Orthmann de viver a vida. Casou-se aos 24 anos, teve cinco filhos. Ficou viúvo aos 55. Três anos depois, casou-se com uma moça de 27 anos com quem teve dois filhos. O mais novo, Marcelo, tem 19 anos e acabou de começar um estágio na área de compras da Renauxview.

Por muito tempo, jogou vôlei, basquete e boliche. Hoje, dedica-se todas terças e quintas-feiras à canastra (um tipo de jogo de cartas). A jogatina segue até a meia-noite.

Entre suas filosofias de trabalho, além de anotar tudo o que promete ao cliente, está não discutir com os patrões e, principalmente, amar o que se faz durante o expediente. “Eu não posso ser exemplo para um jovem, cada um tem que saber o que gosta de fazer e se empenhar nisso”, diz

By Revista Alfa

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