quarta-feira, 24 de julho de 2013

O que isso tem a ver com Administração?



Entenda o que a profissão de Administrador tem a ver com sucessos e fracassos do esporte, da música, de um novo sabor de salgadinho e mesmo dos hits da internet


A Administração se faz, já sabemos, não apenas nas salas de reuniões sisudas e pelas mãos de homens de terno e gravata, estereótipos com os quais já estamos bastante acostumados. A Administração, certamente, é uma área privilegiada pela facilidade de atingir todas as organizações, independente de sua natureza ou de sua dimensão. Seja nos setores de eletrônicos, automotivo, farmacêutico, agronegócio, construção civil, em uma pequena mercearia no interior do Brasil ou no modelo de gestão das principais multinacionais do mundo, os princípios da área estão presentes. 
Mas o ato de administrar nem sempre se dá dentro de uma organização, segue a formalidade metodológica ou se estrutura conforme a teoria tradicional prevê. E foi justamente cobrindo áreas pouco associadas à atividade, buscando conexões não muito casuais, que acabamos nos deparando várias vezes com uma pergunta que já se tornou clássica aqui no Administradores: “o que isso tem a ver com Administração?”
Está na hora de você descobrir o que um tema de abertura de novela pode ter a ver com o modelo de negócios que está ensinando a indústria fonográfica a se reinventar, por que jogar futebol não é simplesmente correr atrás de uma bola e, entre outras coisas, como a notícia de um novo sabor de salgadinho pode acabar sendo tão importante quanto um postulado de Fayol.

“Ex-my love”: esse hit vale bem mais que R$ 1,99

Um hit chiclete como qualquer outro: tocou até pouco tempo atrás na abertura de uma telenovela, foi repetido pelo menos umas dez vezes diariamente em todas as rádios do Brasil e sua intérprete se tornou figurinha carimbada nos principais programas da maior emissora de TV do país. Essa poderia ser a breve história de mais um caso de 15 minutos de fama fabricado pelo mainstream midiático. Mas não é. E tem tudo a ver com Administração.
Um dos maiores sucessos musicais nacionais no ano passado foi a assumidamente brega “Ex-my love”, música interpretada pela cantora Gaby Amarantos, que despontou da cena tecnobrega de Belém do Pará diretamente para os grandes centros do Brasil no primeiro semestre de 2012. Mas, ao contrário do que alguns desavisados pensam, a artista não surgiu do dia para a noite – e, pasmem, não precisou pagar jabá e nem sequer vender CDs para ficar famosa. 
Principal expoente de um milionário mercado informal que é uma verdadeira febre no Norte do país, Gaby é parte de um movimento que está ensinando a indústria fonográfica a se reinventar com seu nada tradicional modelo de negócios.Vendo que não poderiam competir com a pirataria, os artistas do tecnobrega resolveram se unir aos “piratas”, tornando-os vendedores oficiais e reconhecidos de seus trabalhos. 
A dinâmica é bem simples: os músicos gravam um álbum em um estúdio qualquer e entregam a matriz aos camelôs, que reproduzem e vendem em massa, tornando as músicas conhecidas. O público gosta e vai ouvir ao vivo nas festas de tecnobrega, chamadas de aparelhagens. Esses eventos são verdadeiros cultos à tecnologia, onde grupos disputam quem tem os melhores equipamentos de som e luz. E é aí que está o grande lance: essas baladas movimentam milhões e garantem aos artistas um retorno altamente vantajoso sobre o custo daquele albunzinho gravado para distribuir com os ambulantes.

“Na cena tecnobrega, a gente sempre utilizou esse modelo simplesmente para divulgação das músicas. Todo mundo ganha mesmo em show, não em vendas. As pessoas compram a música no camelô e os artistas ficam conhecidos sem precisar pagar jabá no rádio. Isso é fantástico”, destaca Gaby Amarantos. 
Hoje, com a carreira nacionalizada, a cantora tem contrato com a gravadora Som Livre e já consegue faturar com vendas de álbuns. Mesmo assim, ela afirma que fez questão de deixar bem claro que não abandonaria o modelo de distribuição gratuita e a gravadora compreendeu que o momento do mercado realmente já é outro e está tentando se adaptar. 
“A gente assinou com a Som Livre porque eles compreenderam o mercado de onde a gente veio, que essa foi uma forma de divulgação que deu certo e é uma prática que a gente não ia abandonar”, destaca Gaby.

Negócios? Nem Luiza que estava no Canadá ficou de fora 

Para a turma do tecnobrega, tão importante quanto a distribuição através dos camelôs, é a divulgação das músicas pela internet. E, assim como eles, outras pessoas - não necessariamente artistas - têm conseguido destaque e se tornado grandes atrativos para marcas antenadas nas possibilidades de negócios que podem ser gerados.
Um vídeo engraçado, uma imagem ou uma frase de impacto – se caem na internet e no gosto do público – podem ser compartilhados entre milhares ou até mesmo milhões de pessoas em todo o mundo. Diante do alcance possibilitado por esse tipo de conteúdo, as empresas cada vez mais têm investido na utilização e criação de hits e virais da internet para dar um up nos negócios.
Um exemplo disso foi o vídeo da propaganda de uma construtora que deu origem ao meme “Menos Luiza, que está no Canadá” em janeiro de 2012, febre no Brasil e no exterior.  Várias empresas pegaram carona no sucesso, vinculando suas marcas ao viral. Uma delas foi a varejista Magazine Luiza que, aproveitando a associação do meme à sua marca, promoveu, no início daquele ano, o concurso #ALuizaNãoViu, no Twitter. Na comparação com outras ações da empresa na mesma rede, esta gerou um aumento de quase 250% nas menções, de acordo com mapeamento da MITI Inteligência.

Outro caso de repercussão foi o vídeo “Para nossa alegria”, em que uma família fez sua interpretação da música gospel "Galhos Secos” e acabou ficando famosa. A Pepsi aproveitou o sucesso das celebridades instantâneas para ter mais visibilidade ao fazer uma parceria com o grupo.  A fábrica de refrigerante propôs um desafio em sua fanpage no Facebook, prometendo que a família só lançaria uma nova música caso a companhia atingisse 500 mil fãs em sua página. A meta da Pepsi foi alcançada rapidamente, pois a empresa – que tinha menos de 400 mil curtidores em 4 de abril, quando lançou a ação – atingiu seu objetivo em apenas nove dias.
Outro caso que se tornou um fenômeno no Facebook foi o do jovem estudante de publicidade Ricck Lopes. Com tiradas sarcásticas, ele criou a fanpage Gina Indelicada, que ultrapassou um milhão de fãs em uma semana, e tirou do limbo a adormecida marca de palitos de madeira Gina. Apesar da polêmica criada pela acusação de que algumas respostas da Gina Indelicada foram extraídas de outras fontes, o engajamento criado pelo jovem rapaz fez com que ele fosse convidado para participar de vários trabalhos, além de coordenar a campanha on-line de uma famosa marca de desodorantes.
O sucesso imediato, com estratégias baseadas no próprio comportamento dos internautas, mostra como as redes sociais se tornaram uma das melhores ferramentas para as empresas se conectarem com os clientes de maneiras diferentes. Com um canal de mídia atingindo 46 milhões de pessoas só no Brasil, virou praticamente uma questão de sobrevivência as marcas estarem lá. 

Os riscos não calculados

No entanto, as empresas nem sempre acertam na hora de lançar essas ações. Muitas vezes, o que era para viralizar e render bons frutos, acaba causando polêmica e não contentando todo o público, podendo gerar efeitos desastrosos para uma marca. Um exemplo foi o vídeo "Perdi meu amor na balada", em que um rapaz tinha conhecido “o amor de sua vida” e pedia ajuda para reencontrar a garota. Depois, descobriu-se que era uma ação da Nokia para promover seu novo aparelho celular.
Mesmo a ação tendo rendido comentários elogiosos, outros internautas se expressaram negativamente, alguns sentindo-se enganados ou “feitos de bobo”. “No caso da Nokia, muita gente acabou se sentindo idiota. Isso foi contrário à proposta e não agregou valor algum à marca, muito pelo contrário”, afirmou Gabriel Rossi, palestrante e especialista em Marketing Digital.
De acordo com Rossi, as empresas precisam lidar com a sua atuação na internet de forma responsável, se preocupando com o fortalecimento da marca e sabendo enfrentar e reverter crises que possam ocorrer na rede. “A internet não é só uma ferramenta de comunicação. Pensar assim é um erro brutal da maioria das marcas. A internet é coisa séria. Requer treinamento, política de mídias sociais, objetivo de negócio específico, profissionalização, monitoramento, gerenciamento de comunidade profissionalizado e pesquisa”.

Futebol: administrando mais que a posse de bola

Todos nós já estamos cansados de saber que o futebol é uma paixão nacional e uma das formas de entretenimento mais comuns do Brasil. Para quem gosta, poucas coisas são tão boas quanto sentar em frente à TV ou ir ao estádio, abrir uma (ou algumas) cervejas e quase ter um enfarte torcendo para o time do coração. Pois bem. Mas o que a final do Brasileirão e o fato de Neymar ter passado tanto tempo jogando no Brasil, mesmo depois de ter se destacado, têm a ver com Administração? 
A resposta é simples: por trás de qualquer grande espetáculo, existe sempre um grande negócio. E um grande negócio nunca dará certo se não tiver quem o administre. O esforço concentrado para manter a estrela em solo brasileiro foi um dos exemplos mais notórios disso. Para competir com as propostas do mercado europeu, a diretoria santista teve de desenvolver e colocar em prática um complexo planejamento estratégico, capaz de envolver empresas dispostas a investir capital suficiente para bancar a permanência do craque. Em troca, ele se tornou a figura mais carimbada da publicidade brasileira – e uma das marcas mais valorizadas do país.
Investir em esportes – principalmente em futebol, no caso do Brasil – é um negócio que pode render realmente bons frutos. “Os clubes têm o que todas as outras empresas sonham ter: clientes fãs de suas marcas. Um torcedor de um time nunca vai comprar a camisa de outro. O torcedor é um cliente muito fiel. Se você fizer boas coisas para ele, sempre haverá uma resposta”, ressalta Fred Albuquerque, especialista em marketing esportivo e dono de uma franquia da Loja do Galo, que vende produtos oficiais do Atlético/MG.
Fred destaca que, mesmo com os altos e baixos naturais dos times dentro de campo, o torcedor é um cliente presente. Em 2012, o Atlético/MG viveu um ótimo momento, fez o melhor início da história do Brasileirão por pontos corridos e quase se sagrou campeão. Neste ano, é o único do Brasil que continua na Libertadores da América. Mas, mesmo quando a equipe amargou a queda para a segunda divisão, o torcedor esteve presente. Do ponto de vista do negócio, isso significa ter um público fiel mesmo em tempos de crise.
Com um país tão apaixonado por futebol, o mercado de produtos associados ao segmento tem um potencial muito grande e, na avaliação de Fred Albuquerque, ainda pode crescer bastante. “Na Europa, você encontra de escovas de dentes a carros com marcas dos clubes de futebol. No Brasil, isso ainda se dá de forma tímida”, acredita o especialista.
Com a vinda da Copa do Mundo e das Olimpíadas nos próximos anos, a expectativa é de que o mercado esportivo brasileiro se aqueça ainda mais. E pode ter certeza: vão ser necessários vários e bons administradores para criar e tocar pequenas, médias e grandes iniciativas.

O poder de vendas de um novo sabor de salgadinho 

Imagine a seguinte situação: você acessa o Administradores.com para procurar informações sobre Administração. Nele, você já leu notícias sobre joint ventures, rodadas de negócios, fusões, contratações, sugestões de cursos de MBA, dicas sobre como melhorar o currículo, entre vários outros temas relativos a empresas e carreiras profissionais. Um dia, você se depara com duas notícias: uma sobre o lançamento de um novo sabor de uma marca de salgadinhos; e outra referente ao lançamento de um aplicativo de receitas culinárias para tablets. E aí você se pergunta: o que isso está fazendo aqui?
Inicialmente, é necessário entender que um produto ou serviço e o seu lançamento não são nada mais do que frutos de todo um trabalho interno e externo de uma empresa. Esse esforço demanda, entre outras ações, investimentos, mão-de-obra, pesquisa com o consumidor, testes e ideias inovadoras. E vem ainda o pós-lançamento com as vendas e as ações de marketing para apresentar a novidade aos consumidores, além da consequente receptividade do público, seguida do sucesso ou não da novidade. 
Ufa! Se todos os leitores conhecessem a complexidade de um lançamento realizado por uma empresa – por mais banal que possa parecer – saberiam, só de olhar para o título de uma notícia sobre o assunto, que isso tem tudo a ver com Administração.  
Por possuir total relação com negócios, é preciso que as empresas encarem seriamente a maneira como mostram e vendem seu produto ou serviço, pois isso determina, na maioria dos casos, como o público vai receber a novidade. Segundo José Roberto Martins, professor de gestão e avaliação de ativos intangíveis e branding, “normalmente, os fracassos não estão na qualidade do serviço ou do produto, mas passam desde uma incompreensão do posicionamento da marca, e, principalmente do comportamento do consumidor”.
Várias companhias das áreas alimentícia, de bebidas e de cosmética têm se destacado com suas novas ideias. “As empresas de alimentos Sadia, Perdigão, Ceratti, Nestlé, são quase sempre bem sucedidas em seus testes de conceitos. As empresas de bebidas, como Cervejaria Petrópolis, Coca-Cola, entre outras, também agem assim. Na Natura, Contém 1g e Avon, tudo é testado exaustivamente dentre públicos selecionados”, afirma Martins.
A Nestlé, por exemplo, que teve um crescimento orgânico mundial nas vendas de cerca de 6,6%, atingindo 44,1 bilhões de francos suíços no primeiro semestre de 2012, teve como um dos motivos do seu crescimento na América Latina o lançamento da marca de chocolates KitKat.
Outra empresa que faturou com lançamentos foi a Ambev. A companhia, que registrou R$ 2,346 bilhões de lucro líquido normalizado nos primeiros três meses de 2012, com crescimento de 12,3% em relação ao mesmo período de 2011, teve a Budweiser como uma das marcas responsáveis pelo bom desempenho. A cerveja, que chegou ao Brasil no ano passado, foi lançada na região Nordeste no primeiro trimestre deste ano. 
Diante de tudo isso, será ainda que há quem acredite que o lançamento de uma nova cerveja, ou de um novo chocolate não tenha nenhuma relação com o mundo dos negócios? E o que falar das músicas, das piadas na web e do futebol? E olha que nem falamos de moda, filosofia, artes, política, meio ambiente... Se fôssemos analisar com mais cuidado cada um desses segmentos, detectaríamos a Administração presente de várias formas. É como diz a campanha descrita nas primeiras linhas dessa reportagem: a Administração (realmente) move o mundo.  

by administradores.com


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